A Polícia Federal revelou na última semana um esquema criminoso que transformou concursos públicos em mercadoria de luxo, com valores que chegavam a R$ 500 mil por aprovação garantida. A operação expôs uma organização familiar que atuava há mais de uma década, utilizando tecnologia sofisticada e métodos surpreendentes para burlar os sistemas de segurança das bancas examinadoras.
Como funcionava o esquema criminoso
A quadrilha baseada em Patos, no Sertão da Paraíba, operava como uma verdadeira empresa especializada em fraudes. O grupo utilizava pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, dublês e comunicação em tempo real durante as provas para garantir a aprovação dos candidatos que pagavam pelos serviços.
Os valores cobrados variavam conforme o cargo pretendido e a complexidade do concurso. As formas de pagamento aceitas incluíam dinheiro vivo, ouro, veículos e até procedimentos odontológicos – evidenciando a estrutura organizada para lavagem de dinheiro.
A estrutura familiar da máfia dos concursos
O líder e seus métodos
Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021, comandava a organização criminosa. Sua ficha criminal extensa inclui homicídio, peculato, concussão, roubo majorado e uso de documento falso. O líder do esquema era responsável por negociar com candidatos, coordenar a logística das provas e distribuir gabaritos.
Em 2024, Wanderlan inscreveu-se no Concurso Nacional Unificado apenas para demonstrar aos clientes a eficiência do sistema fraudulento. Foi aprovado para auditor fiscal do trabalho, cargo com salário inicial de R$ 22,9 mil, mas não compareceu ao curso de formação.
Os membros da organização
A estrutura contava com participação de familiares em funções específicas:
- Wanderson Gabriel Limeira de Sousa (filho): responsável pela execução técnica das fraudes
- Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves (irmãos): apoio operacional
- Larissa de Oliveira Neves (sobrinha): utilizada como “vitrine” para atrair novos clientes após aprovação no CNU
Concursos afetados e evidências
O esquema atingiu concursos de instituições de prestígio como Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, UFPB e o próprio CNU. A investigação identificou atuação do grupo em dezenas de certames entre 2015 e 2025.
Provas técnicas irrefutáveis
A análise dos gabaritos do CNU 2024 revelou que quatro candidatos investigados apresentaram respostas idênticas, inclusive nos erros, apesar de realizarem provas de tipos diferentes. Segundo laudo técnico da PF, a probabilidade desse padrão ocorrer naturalmente equivale a ganhar o prêmio máximo da Mega-Sena 18 a 19 vezes consecutivas.
Operação última fase e desdobramentos
A Polícia Federal deflagrou a Operação Última Fase com mandados de prisão e busca contra os principais investigados. Três pessoas foram presas preventivamente, duas em Recife e uma em Patos. O Ministério da Gestão informou estar acompanhando as investigações e aguardando desdobramentos para adotar medidas administrativas necessárias.
As investigações revelaram movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos suspeitos, incluindo compra e venda fictícia de imóveis e uso de laranjas. Uma clínica odontológica no Rio Grande do Norte era suspeita de servir como fachada para lavagem de dinheiro do esquema.
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Dúvidas frequentes
Há candidatos aprovados que já tomaram posse?
Até o momento das medidas cautelares, nenhum dos principais investigados por fraude no CNU havia tomado posse nos cargos.
O que acontecerá com os concursos afetados?
O TCE-PE já suspendeu resultado de concurso. O Ministério da Gestão aguarda desdobramentos da operação para adotar medidas administrativas cabíveis.
Quem poderia contratar os serviços da máfia dos concursos?
Qualquer candidato disposto a pagar os valores exigidos, que variavam conforme o cargo e podiam chegar a R$ 500 mil.
Como denunciar suspeitas de fraude em concursos públicos?
Denúncias podem ser feitas à Polícia Federal, ao Ministério Público ou através das ouvidorias das instituições organizadoras dos concursos.